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Sobre Antonio Miranda
 
 


 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

O poeta, escritor e sertanista Olímpio Cruz em noite de autógrafos, nos anos 1980.

 

 

OLÍMPIO CRUZ

 

(20 de outubro de 1909 — Brasília, 11 de junho de 1996)

OLÍMPIO CRUZ (Olímpio Martins da Cruz) nasceu no município de Barra do Corda, Estado do Maranhão, no dia 20 de outubro de 1909. Filho de Zeferino Martins da Cruz e de D. Vicência Craveiro da Cruz. É casado com D. Maria José Cruz, de cujo matrimónio nasceram cinco filhos: Raimundo Nonato, Maria Dalva, Maria Dinalva, Maria Lindalva e Olím­pio Júnior. Olímpio Cruz — autodidata — é poeta e escritor, tendo já publicado os seguintes livros: "Puturã", poemas in­dígenas, "Canção do Abandono", sonetos e poemas, "Rosas do Tempo", trovas, "Vocabulário de Quatro Dialetos dos ín­dios do Maranhão", prefaciado pelo consagrado escritor Nu­nes Pereira, "Retalhos de Versos" e "Cantigas de Outono", es­tes últimos constantes das coletâneas "Poetas do Brasil" e "Anuário de Poetas do Brasil", editadas por Aparício Fernan­des, tendo ainda participado de "A Trova no Brasil", do mes­mo autor.

Foi vereador, Presidente da Câmara Municipal e exerceu diversos cargos em sua terra natal. É funcionário pú­blico federal, aposentado como Inspetor de índios. No Concurso Literário "Cidade de São Luís", promovido pela Prefeitura da capital maranhense, Olímpio Cruz obteve menção honrosa, na categoria Erudição, com o seu livro "Vocabulário de Quatro Dialetos dos índios do Maranhão".

É sertanista, conhecedor de dialetos indígenas, costumes e tradições dos nossos ame­ríndios. Tem colaborado nos principais jornais da imprensa maranhense. Fundou e presidiu o Grémio Cultural Maranhão Sobrinho e o jornal O Limiar, em Barra do Corda. Foi in­cluído em antologias de autores ilustres como Clóvis Ramos, Carlos Cunha, José Nascimento Morais Filho e Jomar Morais.

 

Tem inéditas as seguintes obras /em 1977/: "Espinheiros Floridos", trovas, "Relatório Sertanejo", poemas folclóricos, "Cauiré Imana", romance histórico, "Vaqueiros e Arreios" e "Lendas Indígenas", estes dois últimos em fase de preparação. Olím­pio Cruz é autor de diversas letras de hinos e canções patrió­ticas. Pertence à Academia Maranhense de Trovas, onde ocupa a cadeira no. 10, patrocinada pelo poeta maranhense Trajano Galvão.

 

Reside no Guará I, em BRASÍLIA — DISTRITO FEDERAL

 

 

 

ANUÁRIO DE POETAS DO BRASIL.  2º. VOLUME.    Organização de Aparício Fernandes.  Capa  de Ney Damasceno.  Rio de Janeiro: Folha Carioca Editora Ltda., 1977.  496 p. 

Ex. bibl. Antonio Miranda.

 

 

 

O ÍNDIO MORTO

 

Ei-lo, tão magro, morto, desprezado,
tendo por leito esfarrapada esteira;
ele que é tudo, o filho mais sagrado
da genuína raça brasileira.

 

Vede, senhores, morto, abandonado,
envolto em simples ramos de palmeira!
Não pede mais a proteção do Estado,
nem mais abrigo à sombra da bandeira!

 

Para viver assim desprotegido,
melhor lhe fora não haver nascido,
para não ser da Pátria a rude escória...

 

Triste é dizer, mas é verdade pura,
apenas teve franca — a sepultura,
e eu faço reticência nessa história!...

 

 

 

FUGA

 

Mandei que fossem juntas, de mãos dadas,
a Saudade e a Tristeza, certo dia,
apressadas andar pelas estradas,
à procura do Amor e da Alegria.

 

Sangrando os pés, devido às caminhadas,
exausta cada qual já se sentia...
Indagaram por todas as paradas,
mas dos dois fugitivos quem sabia?

 

Caminharam demais, ano após ano,
mas, somente encontrando o Desengano,
enfim, voltaram dessa vã procura.

 

Onde a Alegria e o Amor, ó mensageiras?
Ficai comigo... Sois as companheiras
desde o meu berço a minha sepultura!

 

 

 

O AMOR DA FAZENDA

Vamos, meu filho, em busca da cidade, disse meu pai, mostrando-me o caminho. — Terás que penetrar na sociedade e ir às aulas, ganhar um pergaminho.

Num adeus à fazenda "Soledade",
abracei minha prima e meu padrinho,
depois parti, morrendo de saudade
do terno amor do meu primeiro ninho.

Fiquei a sós, ao longo da jornada,

e como quem conselhos nunca toma,

nunca estudei, nem mesmo um curso, nada...

Perdão, meu pai... No Céu, por Deus me entenda: podem valer meus versos um diploma, mas, nunca o amor da moça da fazenda!...

 

BODAS NA SELVA 

Duas árvores fortes abraçadas,
eu as vi lá na mata verde-escura,
sob o tremor
das ramas desfolhadas
ao compasso do vento na espessura.

 

O rangido dos caules e ramadas
soltava notas cheias de ternura,
era a canção das bodas festejadas
entre abraços e beijos de doçura.

 

Consórcio na floresta. Amor em suma...
Alto ingazeiro e gorda sumaúma,
saudados por mil pássaros cantores.

 

Dourado orvalho deu mais brilho à festa.

E houve o milagre... Após cessar a orquestra,

a selva inteira se cobriu de flores!

 

 

 

 

SE ELES FALASSEM.

 

Árvores e animais na mata espessa,
se pudessem falar, numa só voz,
assim diriam: o homem, nosso algoz,
é um cérebro por fora da cabeça.

 

Ele faz que a desgraça à terra desça,
morra a planta e o animal manso ou feroz
e depois que acabar com todos nós,
deseja que o pior logo aconteça.

 

Sonha tornar o mundo qual deserto,
sem vida, flor ou sombra e até, por certo,
também secar as águas do Oceano...

 

Mas não choremos ante tanto horror. Aguardemos, sem mágoa nem rancor,
morrer de fome e sede esse tirano.

 

 

 

A SENTENÇA DE PILATOS

 

Levado pela insensatez, Pilatos,
lavando as mãos, ali, com muito medo,
disse, tremendo, como num segredo:
não vejo culpa alguma nos seus atos.

 

Os fariseus terríveis, nos relatos,
tramavam no pretório indigno e tredo,
acusando a Jesus, forjando o enredo
de um libelo de injúria e desacatos.

 

Na vida, qual Pilatos, nós, também,
às vezes frente ao justo, contra o bem,
ficamos neutros diante da cobiça...

 

Perca-se o cargo, perca-se o interesse,
mas vamos dar ao justo o que merece, proclamando-o inocente, na justiça!

 

 

 

PRENÚNCIO

 

Homem, réptil, batráquio ou simples verme, forçado a atravessar o lodaçal,
que apenas faz juntar germe e mais germe
à carcaça do mísero mortal;

 

quando um dia eu sentir sobre a epiderme
algo de frio sobrenatural,
o que fazer? Deixar o corpo inerme,
fugir no instante lúgubre final?

 

Claro que sim!... Partir sem despedida,

pela curva final da minha vida,

de mãos postas, parado o coração...

 

Sem ver mesmo ninguém... Nem mãos piedosas

colherem cravos, açucenas, rosas

para enfeitar-me a cova e o meu caixão!

 

 

 

CAMINHEIRO

 

Em outubro nasci. Sou libriano.
Depressa vou passando pela Terra,
planeta que sustenta o ser humano,
o qual suporta o mal, a fome, a guerra.

 

Na luta contra o mal, esse tirano
que nos priva do bem e nos desterra,
tento, com fé, sondar o velho arcano
onde à luz da verdade o amor se encerra...

 

Sei que venho de longe e estou cansado,
exausto de pisar um chão sem flores,
só de lama, de lodo e de pecado.

 

... E, trôpego viajor, vou conduzindo
a cruz de ferro azul das minhas dores,
já avistando outra vida vir surgindo.

 

 

 

ÀS ORGULHOSAS

 

Por que me olhais assim imperiosas?

Por que não mais como as pombinhas mansas?

Enganai-vos por serdes venturosas,

ó dúlcidas Vestais de loiras tranças!

 

Enganai-vos, ó ninfas orgulhosas,
na garrulice ingénua das crianças...
Feliz, sorvi perfumes de outras rosas,
na esperança feliz das esperanças!

 

Cuidado... O orgulho é uma ilusão que passa
e a vida é qual batel que, solto ao vento,
não sabe quando a noite se emormaça...

 

Talvez mude-me a sorte os seus reversos,

e quem dirá que vós nalgum momento

não chorareis de amor lendo os meus versos?

 

 

 

 

É TARDE

 

Quando me abandonaste e, enfim, partiste naquela noite de luar de arminho,
cravando na minha alma o agudo espinho
da falsidade, muito me feriste.

 

É muito tarde! E agora que surgiste
na curva estreita deste meu caminho,
melhor seria eu prosseguir sozinho,
triste, contando a minha história triste.

 

Agora é tarde. Vai-te embora, segue!
Já ficou para trás o reino de Hebe...
Sozinho hei de seguir a minha estrada.

Por que voltaste? É muito tarde agora!
Por Deus te peço, foge, vai-te embora...
Do teu perjuro amor não quero nada!

 

 


CRUZ, Olímpio.   Clamor da selva. Apresentação por Wolney Milhomem.  Brasília: Edição do Autor, 1978.  87 p.  Inclui Errata.     
Ex. bibl. Antonio Miranda, doação do livreiro José Jorge Leite de Brito.

 

ÍNDIOS CANELAS

Peles vermelhas, nômades das belas
campinas onde o sol beija o recorte
das montanhas azuis, as aquarelas
das naturais pinturas cá do Norte!

Filhos dos que avistaram caravelas,
mensageiras, talvez, própria morte,
sede sempre os indômitos Canelas,
brasílea raça, destemida e forte!

Índios Canelas, filhos dos Timbiras,
ingente inspiração das grandes liras,
que decantaram nossas nostalgias!

Sois vós os índios de viver mais puro,,
herdeiros no presente e no futuro
dos versos de ouro de Gonçalves Dias!


QUEIMADA DE AGOSTO

Mês de agosto. Desnudam-se as colinas.
Os animais na selva, em correria
buscam sedentos a água quente ou fria
das lagoas, nas poças pequeninas...

Nada de chuvas, nem quaisquer neblinas.
Em fogo se arde ao longe a mataria.
Grossos angicos gemem na agonia
do pranto condensado das resinas.

É, pois, do homem a mão rude e malvada,
o crime horrível de fazer queimada,
a destruição do verde e da beleza.

Despertemos, é muito cedo ainda,
pode o deserto ser paisagem linda
se cumprirmos as leis da natureza.

 

REGRESSANDO AO MEARIM

... E aquele é o Mearim dos navegantes,
o mais fecundo jorro das searas,
de itaipavas bravias, espumantes,
meigo e eternal buril das pedras raras.

É o caudal dos remansos marulhantes,
o tão famoso Isô dos guajajaras,
o Mearim das lendas palpitantes
que nos conduz ao reino das iaras!...

E eu chego... Vejo o rio e a nova ponte,
e não vejo iara alguma que me conte
sonhos de amor, de luz e novidades.

Mas, as águas, gemendo sobre o leito,
sentem a velha angústia do meu peito
e me falam de amor e de saudades!

 

 

 

Página ampliada e republicada em fevereiro de 2022

*

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http://www.antoniomiranda.com.br/poesia_brasis/maranhao/maranhao.html

 

Página publicada em abril de 2021


 

 

 
 
 
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